Pesquisas indicam que a popularidade dos celulares inteligentes vai além das funções — entenda o porquê.
Vivemos na era digital, e não há mais como negar isso. Programas de rádio deram lugar aos podcasts, a TV a cabo foi substituída pelos serviços de streamings, e o telefone fixo foi ultrapassado pelos smartphones com sistema operacional, ficando praticamente obsoleto hoje em dia.
A popularidade dos aparelhos modernos já pode ser medida em números. Isso porque, desde 2018, existem mais dispositivos em operação do que pessoas no mundo todo. Além dos avanços tecnológicos, essa adesão massiva tem ligação com o valor agregado que a compra desses produtos traz ao consumidor.
Apesar de não ser difícil identificar esse fato, tendo em vista o status do iPhone, por exemplo, estudos sociais já vêm sendo realizados para entendermos melhor como isso transforma a sociedade contemporânea.
Questão de status
Mesmo que o avanço tecnológico dos dispositivos celulares seja uma grande motivação para torná-los itens tão desejados, é inegável que possuir um aparelho inteligente também é uma questão de status social.
Em um artigo publicado pela Revista Anagrama, da Universidade de São Paulo (USP), a pesquisadora Jaqueline da Silva Pereira analisa o consumo desse tipo de aparelho por adolescentes do ensino médio de escola pública em Cuiabá, capital do estado brasileiro do Mato Grosso.
Para realizar o estudo, a cientista social realizou um sério trabalho de campo, apoiado tanto em conversas que obteve com professores e alunos, quanto em uma intensa pesquisa de suporte bibliográfico e textual.
Levando em consideração exclusivamente esse espaço amostral, a autora conclui que o status social associado a um bem consumo, como um smartphone, em especial no caso de adolescentes, está fortemente ligado ao sentimento de pertencimento, algo que é buscado sobretudo nessa fase da vida humana.
Assim, além de quererem ser vistos como alguém que possui algo desejado, os adolescentes procuram expressar-se por meio da escolha de um aparelho em particular e, a partir disso, potencialmente inserirem-se em um determinado grupo social de seu ecossistema.
Identidade visual
A possibilidade de expressar-se criativamente por meio do simples gesto de escolher uma marca ou outra de telefone está intimamente ligada ao processo criativo dos próprios aparelhos. Isso porque cada modelo de smartphone é projetado por uma série de profissionais que estão atentos a essas demandas.
Um bom exemplo disso é a famosa marca americana Apple, conhecida pelo logotipo de maçã mordida. A empresa foca no design minimalista, desde a aparência externa até o layout do sistema operacional. Com poucas curvas e informações visuais, os smartphones da marca passaram a ser associados com as ideias de requinte e bom gosto.
Vale lembrar que a representação do poder aquisitivo de um telefone também conta para a construção do status do portador. O iPhone 12, por exemplo, o dispositivo mais caro vendido no Brasil atualmente, pode chegar a custar R$12.000,00 na versão Pro Max.
Contra-mão da tendência
Se ter um telefone caro e de última geração pode ser facilmente associado com status social alto, a escolha contrária, de não ter celular em nenhuma hipótese, também representa uma atitude crescente no mundo atual, mesmo que ainda tímida. É cada vez menos raro encontrarmos alguém que decidiu se livrar de vez da tecnologia de telefonia móvel.
Nesses casos, também é possível associar essa decisão a uma questão de status, junto de outras questões. Uma vez que cresce a precaução com os impactos negativos que o uso em excesso de aparelhos de telefone pode causar, a opção de não ter um smartphone também representa o desejo por um status de engajamento social.